BELLA SKYWAY ‘19

Time flies and things change. A lot. But Bella Skyway Festival – now the most important event in the city of Torun, in Poland – remains for more than a decade a large-scale interface by means of which diverse artistic and creative visions aim at the memorable transformation of the built environment. For its continuity, the initiative is today an urban ritual.

This year (the eleventh edition), a few works are fine examples of light art aesthetics. Not only because brilliant concepts strategically demonstrate their specific experiential hegemony, but above all because their very actualization in/of space renders them the status of apparitions. The fragile splendours of Beauty become shared, even if for a few moments, by a curious mass audience.

MOCK-NOCKmock nock, Tell the others what it looks like, Torun, 2019.

Some highlights captured my attention. Mock nock’s (aka Kasia Malejka) incandescent tree is a haunting image of the exhausted Anthropocene, in an eloquently silent dialogue with the urban skyline. Italo-portuguese duo Pedro & Chloe weave a delicate and fluid conversation between exterior and interior, technology and atmosphere, the abstract and the material. Remi Brun’s translation of Human movement into LED-litten machinery is a hit anywhere it is presented.

But one work clearly stands out, and once again in the marvelously sized Ciasna Street [Narrow Street]: Quietly Speaking Colours, by Lithuanian Katryna Calkaite. Urban interventions rarely manage to ‘speak’ across so many intertwined dimensions of art, namely fusing personal insight, biographical elements, the power of individuality, the universal and the particular, the visible and the invisible, while managing to communicate with immediacy a common iconographical sense.

SKYWAY-19-Katryna-Calkaite-Quietly-Speaking-Colours-1-daylight SKYWAY-19-Katryna-Calkaite-Quietly-Speaking-Colours-1 Katryna Calkaite, Quietly Speaking Colours, Torun, 2019.

In the programme there were also of course the usual large-scale video-mapping projections (not that many, which is good). One of them has been in fact quite surprising: the facade of the majestic Collegium Maximum was transfigured by a digital interpretation of the Judgement Day motif. In this light-hearted interactive concept by Tomasz Wlazdak and Adrzej Rutkowski, a very important monument in the city became the screen for a live video game, with the Old School graphics unworking the historical-mythical-architectonic reality uninterruptedly. Always and always again. The ambiguity is disarming. We are literally witnessing an age-old fight, not knowing who’s going to win: the angel armed with a sword or the red-hot devil… Ouch!

These few examples prove what’s it all about in Torun’s Skyway, since its inception in 2009. In the celebrated birthplace of Copernicus, the objective is to praise the city’s identity while allowing for ephemeral new images to rewrite all sorts of narratives (mythical, historical, scientific, cultural, urban), in a way that even the briefest of visual happenings might be appropriated by the visitors as a lasting – if not cognitive – cum-dialectical image.

All this is of course also the consistent result of the continuous layering of time. Traversing the gardens of Bulwar Hotel – now ornamented by the elegant hand-painted lamps of Yun, from Singapore – necessarily reminds me of the experience, in the same spot, of Atsara’s kinetic light drawings, years before… In Fosa Zamkowa, where in previous editions I have been struck by Hetpakt’s musical tents or Rochus Aust’s Futuristic concerts, I now stand very still and attentively watch (and listen to) The Last Parade, a haptic projection work by Alexander Reichtein, full of gravitas and grace.

In sum, the whole festival, in its yearly return, with all the variations and innovations each edition brings, must be understood also as a festive event where/during which thousands of spectators – be they amazed children, skeptical connaisseurs or of course the so-called mainstream public – have the opportunity to appreciate the way the lights of the night may redeem the shadows of the day. No change is sexy. Yes. But change as well.

For the reason sketched above (and well, many others), here I am, proud to be a member of the advisory board of Bella Skyway Festival. The work with colleagues Carole Purnelle, Robert ten Caten, Katarzyna Malejka and the festival’s director Krystian Kubjaczyk has led to a fine balance between diverse aesthetic languages. Programming.

Special acknowledgements: Krystian Kubjaczyk and Sylwia Nurkiewicz.

 

BELLA SKYWAY ‘19

O tempo voa e as coisas mudam. Muito. Mas o Festival Bella Skyway – hoje o mais importante evento na cidade de Torun, na Polónia – permanece há anos como interface em grande escala através do qual muito diversas visões artísticas e criativas apontam à memorável transformação do ambiente construído. Pela sua continuidade, a iniciativa é hoje um ritual urbano.

Este ano (décima primeira edição), há obras que são belos exemplos da estética da arte da luz. Não apenas porque conceitos brilhantes demonstram a sua hegemonia experiencial em toda a sua especificidade, mas sobretudo porque a sua actualização no/do espaço lhe confere o estatuto de aparições. Os frágeis esplendores da Beleza tornam-se partilhados, mesmo que por breves momentos, pela curiosa massa de público.

Alguns destaques capturaram a minha atenção. A árvore incandescente de mock nock (aka Kasia Malejka) é uma perturbante imagem do exausto Antropoceno, num diálogo eloquentemente silencioso com o skyline da cidade. O duo italo-português Pedro & Chloe teceu uma delicada e fluída conversação ente exterior e interior, tecnologia e atmosfera, o abstracto e o físico. A tradução que Remi Brun faz do movimento humano em maquinaria de pontos LED é um sucesso onde quer que seja apresentada.

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Pedro&Chloe, Loom, Torun, 2019.

Mas uma obra sobressaiu claramente, e mais uma vez na maravilhosamente dimensionada travessa Ciasna [a mais estreita da cidade]: Quietly Speaking Colours, da lituana Katryna Calkaite. Intervenções urbanas raramente conseguem ‘falar’ através de tantas e interligadas dimensões da arte, nomeadamente a intuição pessoal, elementos autobiográficos, o poder da individualidade, o universal e particular, o visível e o invisível, ao mesmo tempo conseguindo comunicar com imediatez um comum senso iconográfico.

SKYWAY-19-Katryna-Calkaite-Quietly-Speaking-Colours-3SKYWAY-19-Katryna-Calkaite-Quietly-Speaking-Colours-4Katryna Calkaite, Quietly Speaking Colours, Torun, 2019.

No programa houve também as usuais projecções de vídeo-mapping de grande escala (não tantas quanto é costume, o que é bom). Uma delas foi de facto surpreendente: a fachada do majestoso Collegium Maximum foi transfigurada na interpretação digital do motivo do Julgamento Final. Neste divertido conceito interactivo da autoria de Tomasz Wlazdak e Adrzej Rutkowski, um muito importante monumento da cidade tornou-se no ‘terreno de jogo’ para um vídeo-jogo ao vivo, com os gráficos Old School desmontando imparavelmente a realidade histórica-mítica-arquitectónica. Uma e outra vez. A ambiguidade é desarmante. Estávamos literalmente a olhar para uma luta intemporal, sem saber quem vai vencer: se o anjo armado com a espada ou o diabo vermelho… Ui!

Este par de exemplos prova o que está anualmente em causa no Skyway em Torun, desde o seu início em 2009. No celebrado berço de Copérnico, o objectivo é consagrar a identidade da cidade, permitindo que novas imagens reescrevam todo o tipo de narrativas (míticas, históricas, científicas, culturais, urbanas) de um modo em que mesmo os mais breves dos happenings visuais possam ser apropriados pelos visitantes como memoráveis imagens para-dialécticas – senão cognitivas.

IMG_3428Yup, Rainbow Connection, Torun, 2019.

Tudo isto é certamente também o resultado consistente de um contínuo acumular do tempo. Atravessando os jardins do Hotel Bulwar Hotel – ornamentado com as elegantes lanternas pintadas à mão de Yun, de Singapura – vem-me obrigatoriamente à mente, no mesmo lugar, os desenhos luminosos cinéticos de Atsara, anos antes… Na  Fosa Zamkowa, onde em edições anteriores fui seduzido pelas tendas musicais dos Hetpakt ou os concertos futuristas de Rochus Aust, imobilizo-me atentamente para observar (e ouvir) The Last Parade, uma projecção háptica de Alexander Reichtein, plena de gravitas e graça.

Ao fim e ao cabo, todo o festival, no seu regresso anual, com todas as variações e inovações que cada edição traz, pode ser encarado como um acontecimento festivo em que milhares de espectadores – crianças espantadas, connaisseurs cépticos ou o chamado público mainstream – têm a oportunidade de apreciar o modo como as luzes da noite são capazes redimir as sombras do dia. No change is sexy. Sim. Mas a mudança também.

Pela razão aqui esboçada (e muitas mais), aqui estou, orgulhoso de fazer parte do conselho consultivo do Bella Skyway Festival. O trabalho com os colegas Carole Purnelle, Robert ten Caten, Katarzyna Malejka e o director do festival Krystian Kubjaczyk conduziu a um bom equilíbrio entre linguagens estéticas. Programação.

Agradecimento especial: Krystian Kubjaczyk e Sylwia Nurkiewicz.

Jeppe Hein, The Gate, Torun, 2019.

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