Family Idea

To curate Ron Haselden for Luzboa in 2004 was a great experience, the more because we had the opportunity to develop two important works! The installation of a true classic in Light Art – Fête in the waterfront between Alcântara and Belém– and the production of a new piece, which implied a rich social process. 
 
Family Idea took children’s drawings of their families from Cova da Moura, a neighbourhood in the outskirts of Lisbon, and transmuted them into an assemblement of large scale lightworks, constructed with yellow flexible lightline. It was first installed in Parque Eduardo VII in central Lisbon, becoming one of the most iconic works presented at Luzboa Bienal Internacional da Luz, attracting a huge public, specially during the Lisbon Book Fair.
 
Later this piece would tour to Geneva, Lüdenscheid in Germany, Eindhoven, Talinn and Rio de Janeiro… it’s adaptation would again and again explore the different urban landscapes and contexts, taking a bit of the lifes of these kids everywhere!
 
Ter a oportunidade de programar Ron Haselden na Luzboa em 2004 foi uma excelente experiência, até porque tivemos a oportunidade de desenvolver duas obras importantes! A instalação de um verdadeiro clássico da Arte da Luz – Fête na zona ribeirinha entre Alcântara e Belém – e a produção de uma nova peça, a qual implicaria um rico processo social.
Family Idea partiu de desenhos feitos por crianças da Cova da Moura, um bairro nos arredores de Lisboa, convidadas a desenvolver a sua ‘ideia de família’, para a traduzir para uma imponente instalação de peças realizadas com mangueira luminosa flexível. Foi inaugurada no Parque Eduardo VII, tornando-se uma das obras mais icónicas apresentadas na Luzboa Bienal Internacional da Luz. Atraiu imenso público, especialmente durante o mês da Feira do Livro.
Mais tarde a peça viajaria até Geneva, Lüdenscheid na Alemanha, Eindhoven, Talinn e Rio de Janeiro… a sua adaptação exploraria e outra vez as diferentes paisagens e contextos urbanos, levando um pouco das vidas daqueles miúdos para toda a parte!

Sobre Fête

Também em Fête, de Ron Haselden, se podia ‘entrar’. Uma estrutura de tipo tenda, com as arestas da sua configuração sublinhadas por guirlandas com centenas de pequenas e coloridas lâmpadas incandescentes, pulsava na noite, animada por um som ambiente de valsas populares. A colocação desta peça, que exigia à partida um espaço verde (relvado) relacionou-se de novo com um desejo de interferir na imagem urbana; era importante a peça dar a ver o rio (celebrar a relação de Lisboa com o Tejo) e surpreender os transeuntes (lazer) que seria o potencial público-alvo (para além dos automobilistas que, à distância, tinham também uma perspetiva muito clara do desenho e da sua dinâmica). Um blogger, por exemplo, entusiasmou-se com o… aranhiço de luz!

In Caeiro, Mário; Arte na Cidade – História Contemporânea, Temas e Debates, 2014, p. 159.

 

Sobre Family Idea

Já no Parque Eduardo VII, Family Idea de Ron Haselden transformou num conjunto de ‘desenhos de luz’ os desenhos feitos por crianças da Cova da Moura. No jardim público desse parque, o resultado expressou vivências individuais (a ideia de família que cada criança tinha) e ao mesmo tempo a efetividade de uma dimensão coletiva da obra de arte, sendo por isso muito bem recebida. Quanto à implantação urbana, seria confirmada como excelente suporte para a obra, dado situar-se num ponto alto, com a cidade viva a seus pés (Haselden). Considerando com rigor a geometria do espaço (jardim francês), a opção teve naturalmente o carácter de ocupação intersticial numa zona nobre da cidade, inadvertidamente deixada ‘livre’ pelo furor da comunicação urbana futebolística.

Se logo nas intenções e no título esta obra icónica da Luzboa estabeleceu a importância da arte como representação do mundo mental (lugar de partilha da memória, afeto, entendimento, cognição), a sua filiação conceptual (deskilling do desenho aliado à singeleza dos materiais e à noção de cena urbana típica da land art) desenhou a sua própria apropriação do espaço urbano como possível do político, integrando-se de forma simultaneamente estratégica e tática na con guração urbana de que se tornou epifania: Através do seu trabalho, crianças dos arredores de Lisboa tiveram assim a oportunidade de, participando, sentir orgulho no seu contributo para um evento de grande dimensão e visibilidade artística, a decorrer numa zona importante da cidade (Haselden).

In Caeiro, Mário; Arte na Cidade – História Contemporânea, Temas e Debates, 2014, p. 160.

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