Sobre Fête
Também em Fête, de Ron Haselden, se podia ‘entrar’. Uma estrutura de tipo tenda, com as arestas da sua configuração sublinhadas por guirlandas com centenas de pequenas e coloridas lâmpadas incandescentes, pulsava na noite, animada por um som ambiente de valsas populares. A colocação desta peça, que exigia à partida um espaço verde (relvado) relacionou-se de novo com um desejo de interferir na imagem urbana; era importante a peça dar a ver o rio (celebrar a relação de Lisboa com o Tejo) e surpreender os transeuntes (lazer) que seria o potencial público-alvo (para além dos automobilistas que, à distância, tinham também uma perspetiva muito clara do desenho e da sua dinâmica). Um blogger, por exemplo, entusiasmou-se com o… aranhiço de luz!
In Caeiro, Mário; Arte na Cidade – História Contemporânea, Temas e Debates, 2014, p. 159.
Sobre Family Idea
Já no Parque Eduardo VII, Family Idea de Ron Haselden transformou num conjunto de ‘desenhos de luz’ os desenhos feitos por crianças da Cova da Moura. No jardim público desse parque, o resultado expressou vivências individuais (a ideia de família que cada criança tinha) e ao mesmo tempo a efetividade de uma dimensão coletiva da obra de arte, sendo por isso muito bem recebida. Quanto à implantação urbana, seria confirmada como excelente suporte para a obra, dado situar-se num ponto alto, com a cidade viva a seus pés (Haselden). Considerando com rigor a geometria do espaço (jardim francês), a opção teve naturalmente o carácter de ocupação intersticial numa zona nobre da cidade, inadvertidamente deixada ‘livre’ pelo furor da comunicação urbana futebolística.
Se logo nas intenções e no título esta obra icónica da Luzboa estabeleceu a importância da arte como representação do mundo mental (lugar de partilha da memória, afeto, entendimento, cognição), a sua filiação conceptual (deskilling do desenho aliado à singeleza dos materiais e à noção de cena urbana típica da land art) desenhou a sua própria apropriação do espaço urbano como possível do político, integrando-se de forma simultaneamente estratégica e tática na con guração urbana de que se tornou epifania: Através do seu trabalho, crianças dos arredores de Lisboa tiveram assim a oportunidade de, participando, sentir orgulho no seu contributo para um evento de grande dimensão e visibilidade artística, a decorrer numa zona importante da cidade (Haselden).
In Caeiro, Mário; Arte na Cidade – História Contemporânea, Temas e Debates, 2014, p. 160.