N 38º42’43.668” W 9º8’21.946”

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N 38º42’43.668” W 9º8’21.946″ is a work by Sandra Baía presented by Projecto Travessa da Ermida in the Convento do Carmo within the programme of the event VICENTE NO CARMO, held the 13th of September 2018. Below my text on a piece that works like an afterword on eight years of artistic production. Curator.

«Similarly to some Sandra Baía’s antecedent creations, the work of art is both present and absent. It will remain (for all times) and (it) has (already) gone. It self discloses either as a discrete presence, concealing itself, or as an assertive form, contrasting the signs of times within its clean minimalism; or yet – perhaps first and foremost – as a spatial impetus, a being-(non-)place resonating the place’s identity, as if insinuating an odd uneasiness at the heart of reality through the elegance of its plastic intelligence. A performance of the idea.

Created as an intervention to be exhibited at Museu do Carmo, the work explores architecture from a simultaneously rigorous and informal angle. In a rupture, the mirroring sphere (an essential symbol) merges a magma of timeless narratives whose human testimony – today, the transients’ reflexion – is a casual rumor, however much also the fundamental factor for the work to be a public being, to be lived, to arouse an atmosphere. In these history bursting ruins, we encounter an invitation for the aesthetics’ unlocking, beyond all formalities, calendars, events and, regarding VICENTE Project’s theme, beyond the divine’s own vicissitudes. Concerning what we are unable to speak of, it is best if we keep silent.

The artwork’s title, a last minute trouvaille, are geographic coordinates: N 38º42’43.668” W 9º8’21.946”. These coordinates define S. Vincent relics’ exact arrival location to a countless past centuries Lisbon. In its ephemerality, Sandra Baía’s action – this coordinates’ void translation from a historical fact to a new place (by no means accidentally, a Lisbon’s site of exalted heritage), paradoxically references the perennial continuance of ideas and conceptions. The fundamental’s recurrence, the wordless return, a concretion of past lives and futuristic values, it chiefly concerns the artist’s predication as the testifier for an urge to make sense regardless of any message whatsoever.»

Mário Caeiro

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N 38º42’43.668” W 9º8’21.946″ é uma obra de Sandra Baía no Convento do Carmo, no âmbito do programa do evento VICENTE NO CARMO, que decorreu dia 13 de Setembro de 2018. Em baixo o meu texto sobre uma obra que funciona como espécie de posfácio a oito anos de produção artística. Curadoria.

«Como noutros trabalhos de Sandra Baía, a obra está e não está, permanecerá (para sempre) e já (se) foi (embora). Ora se nos afigura presença discreta, escondendo-se; ora forma assertiva, no seu minimalismo clean em contraste com as marcas do tempo; ou ainda – e talvez acima de tudo – um motivo espacial, uma coisa-(não-)lugar que ressoa a identidade do sítio como que a insinuar, com toda a elegância da inteligência plástica, um inusitado desassossego no seio do real. O espectáculo da ideia.
Nesta peça concebida para o Museu do Carmo, a intervenção explora a arquitectura num registo exigente e simultaneamente informal. Num rasgo, a espelhada esfera (um símbolo essencial) aglutina um magma de narrativas intemporais, de que o testemunho humano – hoje, o reflexo dos passantes – é um rumor casual, mas ao mesmo tempo o factor fundamental para a obra ser coisa pública, vivida, gerar atmosfera. Nestas ruínas cheias de história, estamos perante um convite à abertura do estético, para lá de todos as formalidades e calendários, de todos os acontecimentos, e, considerando-se o tema do Projecto VICENTE, das próprias vicissitudes do divino. Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos.
O nome da obra, uma trouvaille de última hora, são coordenadas geográficas: N 38º42’43.668” W 9º8’21.946”. Definem o ponto exacto onde chegaram as relíquias de São Vicente à Lisboa de há séculos sem conta. Efémero, o gesto de Sandra Baía – este vazio trasladar das coordenadas de um facto histórico para novo local (nada por acaso um excelso património da cidade de Lisboa), remete paradoxalmente para a perenidade das ideias e dos conceitos. Recorrência do fundamental, regresso do mudo, concreção de vidas passadas e valores futurantes, trata-se sobretudo de a artista constituir-se testemunha de um desejo de fazer sentido sem que isso implique qualquer mensagem.»

Mário Caeiro

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