«Há um momento em que as gaivotas desenham mensagens no céu da manhã.» Isto foi escrito antes do amigo Corona nos trocar as voltas ao quotidiano. Hoje, 25 de Abril 2020, e ao contrário do que costumeiramente fiz durante décadas, passeio pelas ruas quase vazias de Caldas e e deixo-me levar pelas músicas das janelas e as conversas nas varandas, a lembrarem-me que só existe uma coisa: o momento presente. As andorinhas em manobras aéreas sobre o pátio, o casal de gaivotas que nunca se tinha aproximado tanto, isso tudo foi ‘ontem’, já só são memória.
Na minha manif. silenciosa de final de tarde, e depois de, de manhã, ter, como é tradição, ter posto o vinil aos berros em casa – para gáudio do meu puto (‘Agora’ do Zeca, seguido de ‘Heaven on their Minds’) – os meus passos levaram-me à ‘Praça do Peixe’. E aí uma voz arranca-me à introspecção da escrita melancólica deste post. É a Susana Valadas do Jardim (Waldorf) da Amoreira, que se cruza comigo também ela na sua manif. íntima. Vai mais ‘artilhada’ do que eu, com cartaz na bike e tudo; mas estamos juntos na imagem, pois do lado de cá do i-phone estou de patriótico pull-over verde e cachecol vermelho. Bom 25!
Mas ora digam-me lá. Não é daqueles sorrisos todos horizonte, confiança e luz? São estes encontros – pequenas e subtis aparições do socius – que dão força aos intelectuais de retaguarda (genial expressão cortesia de Boaventura Sousa Santos, no JL) aquele boost de genuína humanidade que nenhuma app, nenhum hype, nenhum 5G seriam capazes de me oferecer. São sementes. Até para o ano. Sempre.