This is the moment where the philosopher whose thought is absolutely crucial for the moment we live in, and who has recently brightened the FILO-LISBOA conference, meets… Vicente, lui même, wearing his sailor outfit. I am a witness and a spectator, but I confess: I can’t remember the specific reason for the tripartite complicity. The eyebrow raising of António de Castro Caeiro is a bit less expansive than Nelson Guerreiro’s, but what might that mean, looking back? We were in Carmo Archaelogical Museum, the 13th of September 2018 (a Friday), after presenting the VICENTE book. The geometry of gazes in the picture confirms, that is certain, my deepest fascination for the thought, the character, and the personhoodof my homonymous brother. And Nelson, on his birthday, was no less enchanted (in fact asked right there Castro Caeiro to hand him over the printed version of his paper)…
In this image there are subtle layers that lead to remote facts, the kind of facts that for a wannabe culture critic like moi, are more than just fait-divers. They unravel biographical threads that work out as narrative pearls (as if God were an essayist with a poetic vein).
On the right-hand side, Haddock-Guerreiro had no clue, at the time, that he’d be creating a new cultural refence in the Algarve’s summer – the Bóia [which means ‘floater’]. He certainly wasn’t ruminating on the 18 years that already had passed since the 37.º Congress of Young Philosophers, dedicated to the Imaginary, and that he organized in 2000 (the first and only time the event left Spain, to be held in Portugal).
On the left-hand side, exiting (for practice?) there he is, Caeiro. After having been a member of the trash-punk combo Mata Ratos (playing the bass, what else?) – the iconic band that forever stained the reputation of mothers in law – he found himself in philosophizing (askesis he practices with the same arete with which he practices muay thai). In the framework of VICENTE, it was him who redeemed some of the key-moments in the textual production of the whole Project – among them Nelson’s light-fictional meanderings. Might be about that that we are speaking in this mute image? Whatever. Wahlverwandtschaften like these are like an embrace of the instant. Voilá. This is culture with a Human face, the crossing of mutually pollinating biographies. The dance of eyebrows.
Note: far below, a few lines of Castro Caeiro’s text for VICENTE [sorry, sorry, sorry, only in the original Portuguese].
Below: António de Castro Caeiro, speaking online in FILO-LISBOA.
Em cima: António de Castro Caeiro, falando online no FILO-LISBOA.
Ele há cada dois. Momento em que se cruzam um filósofo absolutamente pertinentes para o momento que vivemos, e que ouvimos há dias a agigantar o FILO-LISBOA e, vejam lá, Vicente lui même, em outfit de marinheiro. Sou testenhuma e espectador, mas confesso não reter na memória o motivo para a tripartida cumplicidade. O sobrolho do António de Castro Caeiro ergue-se um tanto menos que o do Nelson Guerreiro, mas o que quererá isso dizer, a esta distância? Estávamos no Museu Arqueológico do Carmo, aos 13 de Setembro de 2018 (uma sexta-feira), depois da apresentação do livro do VICENTE. A geometria dos olhares na foto confirma, isso é certo, o meu profundo fascínio pelo pensamento, pelo carácter, e pela pessoa do meu irmão homónimo. E o Nelson, em dia de aniversário, não estava menos encantado (tanto que lhe cravou ali mesmo a versão impressa do paper)…
Quais layers subtis nesta imagem há depois factos remotos que, na óptica de um pretenso crítico da cultura como o je, são mais do que fait-divers. Desvelam tramas biográficas que são pequenas pérolas narrativas (como se Deus fosse um ensaísta com veia poética).
Repare-se que à direita, o Haddock-Guerreiro não fazia nesta altura a menor ideia de que viria a criar dois anos depois uma nova referência da cultura estival algarvia – a Bóia. Também não estaria certamente a ruminar que já tinham passado 18 anos desde o 37.º Congresso de Jovens Filósofos, dedicado ao Imaginário, e que organizou nesses idos de 2000 (a primeira e única vez se realizou fora de Espanha).
À esquerda, de saída (para os treinos?) está o Caeiro que, depois de ter tocado baixo (what else?) nos Mata Ratos – icónica banda trash-punk que para sempre manchou a reputação das sogras – se encontrou no filosofar (askesis que pratica com a mesma precisão com que pratica muay thai). No VICENTE, foi ele quem no sentido posfácio resgatou alguns momentos-chave da produção textual de todo o Projecto – entre os quais os devaneios leve-ficcionais do Nelson. Será disso que estão a falar na imagem ora muda? Whatever. Wahlverwandtschaften como estas são um abraço ao instante. Voilá. A cultura com rosto humano é isto, cruzamentos de biografias que se polinizam. A dança dos sobrolhos.
E vai de citação: «Esperamos que os outros por vir, cheguem à nossa beira e nos convoquem do mesmo modo que nos constituímos em herdeiros e vivemos numa contínua habilitação da herança que nos foi deixada em testamento não só por pais, avós e bisavós, mas por todos aqueles que se salientaram nas suas vidas pelo poder que lhes foi conferido pelas suas obras, obras físicas, tecnológicas, industriais, obras do espírito, daquele sopro que se abate sobre nós e nos configura na possibilidade da transcendência, da auto-transcendência, da ultrapassagem de nós próprios, que nos habilita a uma existência maior do que a que temos, uma existência superlativa, total, nec plus-ultra. Este modo de os outros nos acontecerem é um encontro.» (Caeiro, o Castro, no posfácio da obra VICENTE. Símbolo de Lisboa. Mito Contemporâneo, uma edição Theya)
Aliás, soma e segue: «Queremos assim também que os outros se aproximem de nós através do que dizemos ou escrevemos à moda antiga por carta ou contemporânea. E queremos porque o projecto vital, o lance em que estamos lançados, desde sempre está aberto ao passado e ao futuro, por uma forma complexa do que podemos chamar saudade e que tem como objecto tanto o passado, como o futuro, como o presente. Viver era recordar para Platão, uma forma de reconhecimento de um itinerário que nos leva continuamente para nós próprios, seja o fim Ítaca ou Lisboa.»